O QUE É IMERSÃO SONORA?

Imersão sonora é a capacidade de envolver o ouvinte por um campo sonoro, criando a percepção de se estar imerso em um ambiente acústico, tendo os sons (as fontes sonoras) distribuídos e posicionados ao redor.
 

Uma festa, cercado por objetos sonoros

Um engarrafamento, campos difusos

Na vida real estamos constantemente imersos em campos sonoros, produzidos por sons ao nosso redor, e temos a percepção da posição dos objetos, do espaço e da acústica ao nosso redor. Poder recriar esta experiência numa sala com realismo, ou mesmo poder criar artificialmente um ambiente sonoro e cenas acústicas usando alto-falantes ou fones de ouvido é a proposta dos sistemas capazes de imersão sonora, isto é, capazes de transportar o ouvinte para dentro de um campo sonoro virtual.



HISTÓRICO E O "SURROUND” DE HOJE

Os atuais sistemas de som envolvente – ou surround na terminologia inglesa – já permitem um certo grau de imersão em um campo sonoro artificialmente gerado por caixas acústicas colocadas ao redor do ouvinte, dando direção e movimento ao som. Os sistemas 5.1 e 7.1 permitem criar campos sonoros no plano 2D de audição (bidimensional).

As configurações de canais coincidem com as configurações de caixas acústicas, e variam usualmente de 2 a 3 canais bases (L e R ou L, C e R) mais canais envolventes (ditos "surround"), dando origem a combinações como LRS, LCRS (comum em mídia de cinema), LRLsRs, LCRLsRs (base do 5.1) e LCRLs1Ls2Rs1Rs2 (base do 7.1).
 

L left, R right, C center, Ls left surround, Rs right surround
.1 LFE (canal de baixas frequências, não mostrado)
(MS) mono surround (opcional)
fonte: standard ITU-R.BS.775-1

O palco sonoro frontal (L, C e R) permite posicionar os sons e simular o movimento lateral. As caixas traseiras (S) permitem ampliar a sensação de imersão, frequentemente reproduzindo sons secundários à cena principal, com o objetivo de reforçar a percepção do espaço circundante.

Efeitos podem ser criados pela ação conjunta das caixas, e especialmente por uma dedicada à reprodução exclusiva de baixas frequências. A experiência sonora que estes formatos possibilitam para os audiófilos, espectadores de filmes e de shows agrega muitas vantagens sobre o estéreo, mas grandes avanços ainda são previstos para o futuro, tanto nos programas sonoros (aumento do realismo, usando técnicas de realidade virtual) quanto nos equipamentos (oferta maior de recursos e qualidade, usando formatos de alta definição e maior densidade de canais).

Os formatos 5.1/7.1 entretanto têm limitações, não permitindo por exemplo uma recriação ampla (3D), estável (robusta) e realista (simulada) de um ambiente acústico. Diz-se que estes formatos são mais úteis para uma mixagem artística das cenas. A masterização também pode ser crítica nestes sistemas, e, especialmente em filmes, não raro percebemos sons que nos parecem exógenos à cena. Some-se a estas limitações o caráter estático dos próprios sistemas de codificação "surround" disponíveis, baseados em 6 ou 8 canais pré-produzidos, descrevendo cenas e arranjos fixos, e também a qualidade e configuração dos equipamentos de sonorização e alto-falantes, muitas vezes difíceis de serem posicionados em conformidade à norma 5.1.



A EVOLUÇÃO

A imersão sonora tem sido alvo de muitos projetos de pesquisa e trabalhos focados no desenvolvimento de novos sistemas, programas e equipamentos para áudio envolvente, acessíveis para os estúdios, compositores, para os produtores do mercado fonográfico, artistas e também para os usuários finais (ouvintes), considerando o mercado doméstico em que os "home-theaters" se popularizaram, e ampliaram sobremaneira a qualidade do entretenimento sonoro.

Novas técnicas e métodos de geração de campos sonoros e auralização são passíveis de incorporação progressivamente aos equipamentos sonoros, bem como a adaptação de tecnologias já estabelecidas, como o surround 5.1 e 7.1 multicanal.

Seguindo o curso natural da evolução dos sistemas de sonorização, as próximas gerações são dedicadas à recriação de ambientes acústicos e cenas sonoras que envolvam os ouvintes ou espectadores, fornecendo a percepção de uma realidade virtual sônica.

Além disso, a capacidade de interação e alteração da cena sonora são funcionalidades altamente desejáveis, e vêm a modificar os hábitos dos ouvintes do futuro. Os equipamentos multimídia de consumo, como iPods e celulares multifuncionais já incorporam uma tendência de transformar o usuário de um simples e passivo espectador num prosumer, isto é, em um co-produtor da mídia, dando a ele poderes além da equalização para editar ou configurar a exibição ou reprodução final do áudio no seu terminal, segundo suas preferências.

A configuração de vários parâmetros do espaço de audição segundo as preferências do ouvinte pode ser feita, por exemplo, interativamente, e a popularização dessa funcionalidade pode ser vista como uma evolução dos atuais presets de equalização. Esta tendência também se aplica aos futuros terminais de TV e rádio digital.



O FUTURO

Antevemos aplicações imediatas das novas abordagens em sonorização imersiva e sua confluência com as tendências sociais, qualitativas e comportamentais na relação com a produção e o consumo de áudio. Blocos de uma mesma arquitetura de som podem ser adequadamente adaptados a diferentes construções de sistemas sonoros para platéias distintas: maestros, produtores, distribuidores de som/mídia, audiófilos, apreciadores de música, consumidores de iPod’s, usuários de jogos, telespectadores de TV, sound designers, etc. Esta adaptabilidade está orientada a campos: campos profissionais, campos de atuação, campos de conhecimento, ou ontologias. A orientação à cena sonora e a ontologias de áudio são palavras chaves nesta evolução, que não terá impacto somente no produto final, mas terá também na ferramenta de produção.

Além do aspecto da interação, a adaptação ao perfil do consumidor, ou personalização, é outra força propulsora na evolução dos sistemas audiovisuais. A cadeia de produção e distribuição fonográfica progressivamente se adaptará a novos conceitos de reconfiguração do espaço e do conteúdo sonoro na ponta do consumidor, que poderá usufruir então vários níveis de interação. Projetos inovadores para a renderização sonora no terminal (equipamento tocador) e a atenção aos diferentes mercados e aspectos da usabilidade do áudio multicanal são atualmente objeto de pesquisa e de atuação pela Organia, visando ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras para áudio

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